19:44 - Caetés


A alma estava molhada
ainda que as ondas
não chegassem aos pés.
Com quantos moinhos lutei,
protegendo o indefensável?

Ah, centopéia...
Ah, polidáctila...
Só lhe cortarão as asas!

Tome o chá sem oras,
Deixe que o vento leve a estola.
Verá que ela é quem era!

Apoiava-se sobre o crânio ressequido
de vida, de paixão e de humanidade.

Da forma de corpo
Sombras de hipóteses
Teorias do medo
Solta-se a pele
da víbora nascida.

Peçonha tem formas várias,
até de palavras.
O veneno é que se define pela dose.
Embriago-me de sobriedade.



Então é este seu esconderijo?
É por estas frágeis palavras
e heroicos poemas
que se esconde o pré-homem?

Sem asas ou saltos livres
é por este precipício
que se joga a cada noite
com luzes e drogas artificiais?

Deste orifício
sem lentes
é que escande
as almas desconhecidas?

Nesta mesa
sem cores
é que cria
a suavidade da pele
que jamais tocou?

Sobre estes lençóis
de austeridade e soberba
é que se coloca
entre mendigos
de ruas boêmias?

É por este fiapo de luz
que vislumbra
seu inquestionável mundo
de criaturas repugnáveis?


Apaixonado (Desesperado)

Se seus olhos
mirassem
outros olhos
e sua alma
daquela outra
se apartasse
lindo parto
de partituras
afins
sonetos
claros
precisos
necessários.

Hiato



Dentro de mim

colho as pétalas douradas

a macela 

que embranquece

o barranco

as notas musicais 

que só eu ouço.