Diário II

De caos e reminiscências
Fez-se o dia
De páginas escritas, relidas
Revividas, rotas, mofadas
Desgastadas, decoradas,
Se fez a semana
Meses

Acaso não descobriste ainda
Que há páginas por escrever?
Não tenhas obrigação enfadonha
Não dispenses atenção única...
Apenas vê, na brancura vazia,

O que chama a viver
O convite de novos ventos,
Não sou eu – és tu!
Essa brisa sem perfumes
Não sai de mim!
Respira, renasça e vê:
Um convite branco e vazio
Espera por ti!



Foto by Dionísio Dias

Diário

Hoje podei rosas
Reli manifestos, coletei gotas de carinho.

As rosas, algumas na roseira,
Outras no vaso – reviverão
Momentos de seu tempo-raiz
E poderão aos botões desabrochar
- Como no tempo-raiz.

Manifestos jamais serão serenos.
São gritos – hoje mudos,
Hoje desmedidamente insanos,
Por não se saber mais raiz.

Carinhos em chuvas, garoa,
São melhores!
Colho gotas, orvalhos...
Talvez acumule pequeno frasco
- Daqueles que se põe uma gota
Na taça dos delírios...

... Mas essas gotas irão
- E virão
Em palavras, imagens,
Objetos imantados à porta gélida
- E farão uma coleção de carinhos
Do mundo inteiro!

Terei versos no vaso,
No papel,
No frasco,
Na porta,
Nos olhos...
... Um dia nas mãos!









Carta de garrafa

Caro e legítimo poeta:
Longe da rotina tecnoburocrata,
Minha vida continua:
Espirais kardecistas.

Ávido e ácido crítico:
De minha colheita,
Já os frutos são diminutos,
Deformados, deturpados...
Entressafra poética.

Sincero e honesto amigo:
Eis que me valho de versos
Seus - em pensamento -
Para assegurar-me
Da inconstância,
Da insuficiência humana.

Desconhecidos olhos
Aos quais dirijo
Voláteis pensamentos:
A tela é fria,
O papel subserviente.
... Mas os humanos
Têm mais que termômetros e joelhos.

Foto by ArteZoe